Abstract:
Neste trabalho foi
realizado um estudo multidisciplinar sobre a leishmaniose tegumentar
relacionado ao parasito, aos hospedeiros e aos vetores na Reserva
Indígena Xakriabá, norte de Minas Gerais, Brasil. Uma amostra
populacional das aldeias Imbaúbas I e II foi caracterizada para a
identificação dos casos clínicos e assintomáticos. Os casos de LTA
provenientes das outras aldeias da Reserva Xakriabá também foram
identificados. Todos foram caracterizados quanto às variáveis
demográficas, infecções passadas, presença de co-morbidades,
características das lesões e aspectos relacionados ao tratamento. Além
deste estudo com os humanos, foi desenvolvido um estudo para verificar a
infecção por Leishmania em pequenos mamíferos silvestres e cães
domésticos, estimando a proporção de infectados. As espécies de
flebotomíneos vetores foram determinadas na área. Por fim, foi realizado
um estudo sobre a variabilidade genética de Leishmania (Viannia)
braziliensis proveniente de diferentes hospedeiros vertebrados. A
prevalência da doença nas aldeias Imbaúbas foi estimada em 8,6%. A
partir de 92 casos suspeitos foram detectados 87 casos de LTA em toda a
Reserva. Destes, 72 foram confirmados por algum exame parasitológico
e/ou PCR. A maioria dos pacientes (70,0%) eram portadores de lesões
atípicas, somente 27,6% apresentaram úlceras típicas e 2 pacientes eram
portadores tanto de úlcera típica quanto de lesões atípicas. Foram
identificadas três espécies de Leishmania circulando entre os roedores,
marsupiais e cães domésticos: L. braziliensis, L. infantum e L.
guyanensis. Um total de 1327 espécimes de flebotomíneos foi obtido. As
espécies mais capturadas foram Lutzomyia longipalpis (756 exemplares –
57%) e Lu. intermedia (297 exemplares – 22%). Cabe ressaltar que foi
coletado um número considerável de fêmeas de Lu. intermedia (244),
principal vetor de LTA causada por L. braziliensis em Minas Gerais. Foi
verificada a presença, em número bastante reduzido (3 exemplares), de
Lu. whitmani, espécie considerada vetora em importantes focos de LTA no
Brasil. O estudo do polimorfismo genético de L. braziliensis mostrou que
existem duas populações deste parasito circulando entre os hospedeiros
vertebrados. Uma forte associação foi verificada entre as duas
populações de L. braziliensis e o tipo de manifestação clínica. Os
parasitos que apresentaram um perfil idêntico às cepas referência de L.
braziliensis estavam relacionados a lesões do tipo úlcera típica,
enquanto os parasitos que apresentaram perfil variante parecem induzir
lesões atípicas. A chance de ter lesão típica é cerca de cinco vezes
maior entre os pacientes portadores de parasitos com perfil idêntico a
L. braziliensis